"ESCUTA" ESSA!

As produções da propaganda, narradas por quem "sobreviveu" pra contar essas histórias!

As histórias, locais e os protagonistas, são verdadeiros. Tudo aconteceu exatamente como está narrado.

Ilustrações by Mauro Machado de Oliveira. Born to Paint! Textos: Luciana Meregalli e Waner Biazus

"Puta merda de grilos!"

Era a Yeda Maria Vargas começar a falar, os grilos começavam a cantar.

E foi assim até o final das gravações.

O trabalho era um audiovisual para uma empresa de Móveis – no showroom da empresa – com a ex-Miss Universo e ex-Miss Brasil, Yeda Maria Vargas. Bonitona, com uma voz rouca sensual, era ela mesma quem se produzia, com vestidos próprios e jóias diferentes (nada de bijus, só coisa fina!) a cada cena. Até a montagem do cenário tudo correu perfeitamente bem. A Yeda chegou, conversou com o Waner Biazus e a equipe de produção, e foram todos jantar juntos antes do início dos trabalhos. Voltaram para as gravações em torno de 20h30.

A cena de abertura era assim: a Yeda se locomovia elegantemente pelo cenário, enquanto a câmera focava nela e mostrava detalhes. Os primeiros 20 segundos correram muito bem, com a Yeda falando correta e pausadamente, tudo às mil maravilhas. De repente, como se alguém ligasse algum botão, começou uma sinfonia estridente de grilos 'cricrizando' sem parar. Começava um, que atiçava o outro e outro e mais outro, até alertar toda a "comunidade dos grilos" da redondeza. Deveria ter uns 200 grilos. Eles emitiam um som "estereofônico" tão alto, que atrapalhava a locução da Miss.

Ela só poderia gravar naquele dia. Então, a equipe nem cogitou o cancelamento do trabalho, e foi logo comprar inseticida. Não escapou uma fresta das garras do spray matador de pragas, o mais forte que tinha.

O problema parecia solucionado. Mas quando as luzes eram ligadas, e ela começava a falar, os grilos entravam novamente em cena, num coro ensurdecedor. Um, outro, depois a família inteira, amigos da família e conhecidos dos amigos, e por aí vai. Uma "grilaiada" só. A Yeda Maria Vargas começou a ficar nervosa e errar as falas.

O Waner, a essa hora, já estava p... da vida.

- "Puta merda de grilos!", disse ele, batendo violentamente no chão com a mão espalmada, criando um estalo que mais parecia um tiro.

Como por milagre, os grilos simplesmente pararam. Desligaram! A equipe se olhou e a Yeda voltou pro posto. Eles paravam por uns 20 segundos e depois voltavam à ativa.

Um tapa no chão equivalia a 20 ou 30 segundos de gravação em silêncio. E o audiovisual era (só) de 18 minutos. Foi assim até o final do trabalho. Fora as mãos vermelhas e dormentes, aparentemente deu tudo certo. Abraços, beijos, autógrafos e tchau, tchau!

A hora da edição, sem dúvida, foi a pior da história da Exacta/Planet House. O pessoal pegava as imagens brutas e conforme a Yeda ia falando, ouviam-se grilos e mais grilos cantando ao fundo. O audiovisual foi editado frase por frase, às vezes até palavra por palavra. Ficou uma edição mecânica e a voz rouca e sensual da Yeda ficou muito diferente.

No fim das contas, a edição foi finalizada, e o cliente acabou gostando do audiovisual. Com isso, o pessoal aprendeu: Gravar com "concentração de grilos" nunca mais!

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