"ESCUTA" ESSA!

As produções da propaganda, narradas por quem "sobreviveu" pra contar essas histórias!

As histórias, locais e os protagonistas, são verdadeiros. Tudo aconteceu exatamente como está narrado.

Ilustrações by Mauro Machado de Oliveira. Born to Paint! Textos: Luciana Meregalli e Waner Biazus

"Imagine uma ponte, sem nada em cima, sem nada embaixo e sem chamada nenhuma!"

PAPO SÉRIO de um aprendiz de redação.

"Não sei onde eu tô, mas tô! Agora sei! Agora não se!"

Ainda na época da Exacta (Planet House), o Flávio, redator chefe, ficou doente. E não foi qualquer gripezinha, de atestado de um ou dois dias. O guri ficou tão mal, que a agência teve que procurar um estagiário para cobrir o buraco temporário. Entre alguns candidatos, apareceu um, de olhar meio arregalado de "tô prevendo um futuro e ele é negro", "não sei onde eu tô, mas tô! Agora sei! Agora não se!" O cara era uma viagem.

Ele ficou fazendo teste de um mês. Foi passado um briefing de um anúncio institucional de uma empresa automotiva, pra que ele pudesse mostrar um pouco do seu trabalho. O cara passou o dia gesticulando. Levantava, caminhava pela sala, tinha "insights", ia pra mesa e escrevia, escrevia. O ritual foi repetido por várias e várias vezes. E o Waner Biazus só de olho no aspirante a estagiário (o dia inteiro de insights, deveria vir algo fabuloso!).

No final do dia, o Waner chamou ele pra conversar e ver a tal ideia. Acompanhado de um "bolo" de folhas de ofício, o "redator" mandou o Waner sentar, pegou uma xícara de café na garrafa térmica, sentou, tomou uns 4 goles de café e nada de "desembuchar". Remexeu os papeis, falou um pouco sozinho, achou a folha certa e iluminou o semblante.


-"Cara! Bolei o melhor anúncio da agência", disse ele com os olhos arregalados.
- "É o seguinte", gesticulou emocionado. "Imagina uma ponte! Tá imaginando?", perguntou pro Waner.
- "Sim!", respondeu ele.
- "Tem que ser uma ponte grande!", insistiu.
- "Tô imaginando, e daí?", perguntou o Waner meio ansioso.- "Então, essa ponte não tem nada em cima dela. Tá imaginando?"
- "Sim!"
- "E não tem nada embaixo."
- "Então é uma ponte seca? Sem água?", perguntou o Waner sem entender nada.
- "Água tem. Mas tá imaginando a ponte comprida?", desconversou o aprendiz.
- "E a água?", insistiu o Waner.
- "A água esquece! Uma ponte sem nada em cima, sem nada embaixo e sem chamada nenhuma", explicou ele.
- "Mas cara! Sem chamada? Não tem produto? Não tem nada?", pediu o Waner meio irritado.
- "Aí é que está a essência, o 'tchan' da coisa!", continuou ele.
- "?????"
- "A gente pode até escrever 'A Empresa X é tudo!" , falou, e parou olhando fixo para o Waner.
- "A Empresa X é nada!", continuou.
- "Tá, e daí? E o produto?", insistiu o Waner, buscando uma explicação plausível para aquilo tudo.
- "Não precisa", falou o "viajandão".
- "Como assim???"
- "Tu não entendeu a chamada? 'A Empresa X é tudo! A Empresa X é nada!", repetiu, olhando pro Waner."Tu não gostou?".
- "Eu só não entendi nada", respondeu o Waner.
- "Não entendeu? Então vamos começar de novo. 'Imagina uma ponte sem nada em cima, nada embaixo…", continuou ele com o blábláblá. 

O Waner disse que talvez não tivesse entendido a ideia, e pediu uma outra opção.

O cara, respondeu indignado: 

- "Tu não entendeu o espírito da coisa! Ser redator hoje em dia não é fácil!", e voltou pra sua mesa repetindo: "Sem nada em cima, sem nada embaixo… isso tava genial!" 

O dia todo e só saiu aquela ideia maluca!

Resultado: o tal aprendiz durou fatídicos sete dias na agência.

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